Como sempre acontece, a empresa armou a velha choradeira, como se estivesse indo à falência. Mesmo diante de uma pandemia de Covid-19 e de crise que atinge quase todos os setores da economia, a mineração explodiu os lucros sistematicamente apresentados pela Vale durante todo este período. Além do dólar muito valorizado, o preço internacional do minério de ferro supera há muitos meses a expectativa da empresa, tendo chegado a mais de USS 200 a tonelada por um longo período.
Na discussão com os trabalhadores, no entanto, a empresa só fala em conter custos e que só pode reajustar algum benefício se tirar de um outro. Pior ainda, apesar de estar com um INPC que deve bater próximo de 11 º/o para a data-base em novembro, a Vale insiste com o falatório de que paga os melhores salários do mercado, cobrando do sindicato uma melhor compreensão da realidade.
Mais preocupante, a empresa vem alardeando sua intenção de discutir uma redução do Adicional Noturno (de 65% segundo nosso Acordo Coletivo) para os 45% definidos em lei. E pasmem! A justificativa é de que a redução seria necessária para acabar com conflitos entre os trabalhadores, que estariam reclamando de não receber o adicional noturno quando estão trabalhando durante o dia.
Para nivelar todo mundo, quem trabalha a noite e quem trabalha ao dia, seria então justo dar uma compensação para acabar com o adicional de 65% reduzindo-o para 45%?
Quem se sacrifica numa jornada penosa, com todo os riscos e cansaço amplificados à noite deve ser ainda mais penalizado? Esta é uma discussão sobre a penosidade de quem trabalha a noite por quem trabalha apenas durante o dia.
A Vale fala ainda de esvaziar o Acordo Coletivo Nacional e passar inúmeras cláusulas deste para os acordos específicos, tratando de forma diferenciada a realidade de cada região. Certamente, temos questões bem regionalizadas, que devem ser tratadas no "específico". Mas tratar isto de forma generalizada na empresa o fim da isonomia em muitos benefícios, porque a extratificação social de cada região é muito mais complexa do que a falta de sensibilidade social dos patrões.
A empresa já está agendando nova reunião para os dias 19 e 20 de outubro, quando afirma sua disposição de apresentar proposta econômica para o acordo coletivo.
Esperamos que o diálogo seja exercido de forma mais aberta e transparente, para que após o novo acordo coletivo não estejamos sendo obrigados a sistemática discussões de resoluções de conflito.